Ceará

Cresce o número de cearenses que saem do Estado devido a violência

Explosão de violência muda vida dos cearenses, ao ponto de 23% procurar nova vida em outros países.

Este ano começou com um forte incremento dos crimes na capital. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSPDS) do Estado registrados até dia 31 mostram um aumento de 27,15% nos homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte em relação ao mesmo período do ano passado: 1.241 pessoas foram assassinadas em 2018; no mesmo período, em 2017, foram 976. Para se ter uma ideia da dimensão da criminalidade da capital cearense, em todo o ano passado, a cidade do Rio de Janeiro registrou 2.125 mortes violentas; só nos dois primeiros meses deste ano foram 367 assassinatos na capital fluminense.

Por que os homicídios não param de crescer no Ceará?

Violência no estado cresce há pelo menos 4 anos e tem raízes na ineficiência de políticas públicas e na articulação nacional do crime organizado.

Se mantiver o ritmo de homicídios de 2017, quando houve um aumento de mais de 50% nos assassinatos, o estado do Ceará pode ser responsável por mais de 7 mil casos desse crime em 2018. No ano passado, foram registrados 5.134 mortes violentas, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado.

Fortaleza é a grande responsável pelos altos números de violência no estado. Em 2015, a capital cearense já era a campeã em homicídios e mortes violentas, segundo o Atlas da Violência. Dois anos depois, ocorrências letais intencionais chegaram a 1.978, alta de 96,5% em relação a 2016.

O crescimento exponencial dos assassinatos nos últimos anos e a entrada efetiva das facções coincidem, ainda, com o colapso de alguns programas de Segurança Pública do Ceará.

A série de tentativas adotadas pelos governos do Ceará evidenciam grande dificuldade em tornar o estado seguro aos cidadãos. Dos governos de Tasso Jereissati (PSDB) – de 1995 a 1999 e de 1999 a 2002 –, passando por Cid Gomes (PROS), de 2011 a 2015, e ao atual governador Camilo Santana (PT), a segurança pública caminhou a passos lentos.

O Ronda do Quarteirão, pretendia aproximar os policiais da população, a partir do chamado direto do usuário à viatura de seu perímetro. O projeto representou uma das principais promessas do governo estadual para a segurança pública, conseguindo expandir-se para mais de 20 áreas de atuação, e abrangendo por completo nas regiões de Fortaleza, Caucaia e Maracanaú.

Apesar dos avanços, o projeto entrou em declínio ao final do primeiro governo Cid Gomes, no início de janeiro de 2012. O marco ocorreu quando o atual deputado estadual, Capitão Wagner, liderou uma greve de policiais militares, paralisando assim o estado e derrotando o governo. Os chamados “dias do medo” ocasionaram o início de uma crise que perdura até hoje.

Para José Raimundo Carvalho, professor de Economia e especialista em análise estatística criminal da Universidade Federal do Ceará, , o policiamento comunitário, que já existia há quase dez anos, poderia trazer alguma prevenção por estar presente onde o estado não estava. “Criava-se um elo com a população carente”, opina.